terça-feira, junho 08, 2004

A PROMESSA

A PROMESSA

Paccelli M. Zahler

Certo dia, já na adolescência, fui chamado pela minha madrinha para uma conversa muito séria.
Contou-me ter recebido a visita de uma moça que havia sido sua vizinha quando criança.
Segundo ela, a moça, cujo nome não me recordo, contara que havia brincado comigo, pois tínhamos a mesma idade.
Depois de revirar a minha memória de pernas para o ar, lembrei-me vagamente de uma menina que ficava horas a fio conversando comigo, ambos sentados nos degraus da porta da casa da minha madrinha.
Às vezes, ficávamos conversando até o sol se pôr e, posteriormente, ficávamos observando a lua enorme despontando no horizonte já ao anoitecer em pleno verão.
Naquela época, a Rua Oscar Salis era pouco iluminada, assim, a luz refletida pela lua era suficiente para distinguir as pessoas, os veículos e as carroças que ali passavam.
Eu ficava imaginando o que haveria na lua, uma vez que a corrida espacial apenas começara e o homem daria seus primeiros passos por aquelas bandas seis anos depois.
Eu era fascinado pelas histórias de lançamentos de foguetes, envio de sondas ao nosso satélite natural. Ela brincava comigo dizendo que a lua era um queijo enorme com a imagem de São Jorge lá estampada.Tais assuntos estimulavam a minha imaginação.
Pois bem, minha madrinha me chamou e disse com expressão séria:
- Escuta, a moça veio aqui e perguntou por ti.
- Por mim?
- Sim, ela veio cobrar a tua promessa!
- Promessa? Que promessa? – perguntei.
- Bom, ela me disse que havias prometido casar-te com ela – respondeu-me.
- Casar-me com ela? Como? Nem sei quem ela é! – argumentei.
- Pois ela me garantiu que havias prometido casar-te com ela!
- Eu não me lembro disso, não!
- Segundo ela, irias entrar para o exército, te formarias oficial e a procurarias para casar-te com ela – disse minha madrinha.
- Eu prometi isso? Onde eu estava com a cabeça? – matutei. – Olha, madrinha, eu não entrei para o exército, não me tornei oficial, será que mesmo assim a promessa ainda estaria em pé? – perguntei.

Minha madrinha explodiu em uma tremenda gargalhada e disse:

- Ah, esses homens que nunca cumprem o que prometem!Mas, deixa para lá, ela já está noiva!
- Ufa, que sufoco! – disse, respirando aliviado.

Minha consciência ficou mais tranqüila com a notícia.Entretanto, penso que foi uma pena não a ter reencontrado e ao menos saber o seu nome. Como minha madrinha já partiu para o outro lado, jamais saberei.

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