sábado, junho 12, 2004

UMA VIAGEM NO TEMPO

UMA VIAGEM NO TEMPO

Paccelli M. Zahler

Sempre trouxe comigo a imagem da inauguração da passarela do Passo do Onze.Com o passar dos anos, a data exata do acontecimento foi apagada da minha memória.
Outro dia, recebi pelo correio um exemplar do livro “Governos e Governantes de Bagé (1964-1978)”, de autoria do Prof. Cláudio de Leão Lemieszek. Qual não foi a minha surpresa ao descobrir que o fato havia ocorrido em 1968 e que a minha imagem, aos 10 anos de idade, ficara registrada na foto oficial da inauguração, juntamente com a das autoridades e convidados.
Sim, eu estava presente. Na verdade, eu estava brincando na rua e vi alguns carros passando em direção ao Passo do Onze. Curioso, fui ver o que era. Alguém fez um pequeno discurso declarando inaugurada a passarela, todos se reuniram para uma foto e me convidaram também.
Eu estava envergonhado por não estar vestido adequadamente para a ocasião, mas me puxaram para o grupo. E lá saí, de calças curtas e, salvo engano, com um caniço na mão, postado à direita, torcendo para ficar de fora.
Quatro anos antes, no mês de março, havia sido inaugurada a maternidade do Hospital São Sebastião.Nestes mesmos ano e mês, nascia a minha irmã Marininha.
A cidade estava em efervescência. Os militares se agitavam, os quartéis estavam prestes a entrar de prontidão. Na minha memória, a imagem de um hospital limpinho e a minha primeira “viagem” de elevador.Exato, a minha irmã nascera na recém-inaugurada maternidade do Hospital São Sebastião.
Em agosto de 1972, já no Ginásio do Colégio N.S. Auxiliadora, nasceu minha irmã Rosângela.Naquele mês, havia sido lançada a campanha promocional “Bagé em expansão”, que tinha como carro-chefe a marcha “Bagé, terra da gente”, a mesma que cantei na Praça Silveira Martins, sob a regência da Profa. Gilca Nocchi Collares, como integrante do Coral do Colégio N.S. Auxiliadora, juntamente com outros corais ali reunidos.
Eu já havia lido os dois volumes de “Bagé, relatos de sua história”, também de autoria do Prof. Cláudio de Leão Lemieszek.
Longe de Bagé há 22 anos, confesso que fiquei tremendamente emocionado e os devorei em uma semana.
Apesar da modéstia do autor que costuma dizer que sua pretensão é informar e “provocar os verdadeiros historiadores e pesquisadores a pesquisar e ensinar” sobre a história de Bagé, os livros prendem a atenção do leitor do começo ao fim, aguçam a imaginação e nos fazem recuar no tempo para reviver fatos e resgatar nossas raízes.
No período de 1964 a 1968, fui aluno do Orfanato São Benedito. Eu havia conhecido aquele educandário como uma escola de freiras.Pois não é que a instituição foi fundada em 1909 pela Sra. Luciana Leopoldina de Araújo, conhecida como Mãe Luciana, que viera de Pelotas? Para mim, uma novidade.
E ao ler sobre o Orfanato São Benedito, imediatamente vieram imagens da minha infância, da minha primeira professora, a Irmã Glorina; da minha professora de matemática, a Irmã Dirce; dos piqueniques em São Domingos; dos meus colegas, Mara Rubia, Éber, Marcos, Ieda, Magda.
Algumas páginas adiante, o Colégio N.S. Auxiliadora, fundado em 1904 pelo Padre Germano, do qual eu guardo as melhores lembranças da minha vida, pois lá fiquei de 1969 a 1976, e fui agraciado com o “Troféu Aluno Distinção – 1976”, uma deferência do Círculo de Pais e Mestres, que até hoje eu faço questão de honrar.
Tive que fazer um esforço tremendo para segurar as lágrimas ao lembrar-me dos meus professores, Prof. Gesner Carvalho (Física), Prof. Frederico Petrucci (Geografia), Prof. Boaventura Rosa (Ciências e Desenho), Prof. Camilo Moreira (História), Prof. Contreiras (Geografia), Padre Adolfo dos Anjos (Matemática), Padre José Balestieri (Matemática), Padre Lino Fistarol (Português), Prof. Ernesto Wayne (Literatura).
Não poderiam ficar de fora meus amigos e colegas André Brandi, Cláudio Falcão de Azevedo, José Pedro Fuchs, Arlindo Almeida, Soraia Malafaia Collares, Maria Cristina Borralho, Lucinei Silveira, Nelson Neder Kalil, Carlos Sá Costa, Gobbo, e tantos outros que a memória me traz apenas a fisionomia, não os nomes, porém, não os esqueci.
Os livros do Prof. Cláudio Lemieszek proporcionam uma viagem no tempo através de uma história da qual fomos atores. São o refrigério para o espírito do bageense distante da sua terra natal, mostram que temos raízes valorosas arduamente plantadas nesse nosso chão por nossos ancestrais e que temos a obrigação de dar continuidade com o nosso suor.