segunda-feira, julho 18, 2005

MEU PAÍS

Meu País

Paccelli M. Zahler

Adoro meu país
E sua gente.

Gente que trabalha,
Que sofre,
Que rala
E ainda sorri
Sonhando com melhores dias.

Gente que quer vencer
Na vida,
Nos esportes,
Até na avenida
Durante o carnaval.

Gente honesta,
Solidária, hospitaleira,

Gente que se orgulha
Da nacionalidade brasileira.

quinta-feira, junho 09, 2005

FALCÃO, CHARGISTA E ESCRITOR

FALCÃO, CHARGISTA E ESCRITOR

Paccelli M. Zahler

Foi com seis meses de atraso que recebi o livro “Seis Contistas Bageenses”, resultante de uma Oficina de Criação Literária Alcy Cheuiche – 2004.
Fiquei muito contente em ver entre os contistas o meu companheiro de Ginásio e Científico do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora Cláudio Falcão de Azevedo, o Falcão.
Tive o privilégio de conviver diretamente com o Falcão e acompanhar o seu crescente interesse pelo desenho humorístico. Este surgia em qualquer momento ou lugar e circulavam de mão em mão durante as aulas com muito sucesso.
Na hora do recreio, Falcão mantinha-nos entretidos com suas “performances” e piadas. Eram tiradas rápidas que nos pegavam desprevenidos, particularmente a mim, que demorava alguns segundos a mais para entendê-las.
Quando o Mini-Cine Difusora passou o filme “Operação Dragão”, com Bruce Lee, o ídolo do “kung fu” e o seriado “Kung Fu”, com o David Carradine, era transmitido semanalmente pela TV Gaúcha, nossa turma ficou apaixonada pelo assunto e começou a discutir nas rodinhas formadas entre uma aula e outra a filosofia oriental.
Falcão decidiu-se por matricular-se em um curso de caratê Shotokan que havia sido aberta em Bagé. Entre suas leituras preferidas, Lobsang Rampa.
Chegamos a fazer alguns trabalhos escolares juntos. Meu grande problema era me entender com Farah Diba, sua cadela de estimação da raça Pastor Alemão (salvo engano, porque não tinha coragem de encará-la).
Modéstia à parte, a parceria deu certo e obtivemos boas notas nos trabalhos de História prescritos pelo Prof. Getúlio.
Concluído o Curso Científico (2º Grau) prestamos vestibular para a FAT-FunBa (URCAMP), na época em que as provas eram elaboradas pela Universidade Federal de Santa Maria. Ele para Medicina Veterinária, eu para Engenharia Agronômica.
Dada a diferença de assuntos e interesses, nossos caminhos se separaram.
Há cerca de dois anos, navegando pela “internet”, encontrei a página do jornal O Minuano com uma charge assinada pelo Falcão.
Olhei detalhadamente e pensei: “Tenho certeza de que conheço esse traço?”
Remexi na minha caixa de recordações, comparei alguns desenhos que guardei (os primeiros ensaios de Falcão como chargista, onde o personagem era eu) e tive certeza de que se tratava do Cláudio Falcão.
Sim, o Cláudio Falcão, fã incondicional de Arsène Lupin, personagem do escritor francês Maurice Leblanc.
Em seus contos, Cláudio Falcão mostra que seu talento como escritor caminha “pari passu” com o de chargista. Seus contos são agradáveis e refletem, com certeza, parte de suas experiências pessoais.
Chamou-me a atenção sua pequena autobiografia onde consta que “dizia desde sempre que morreria em Bagé”, não tendo hoje a mesma convicção.
Nesse ponto, temos algo em comum.

sábado, junho 04, 2005

OPRESSÃO, A DURA REALIDADE

OPRESSÃO, A DURA REALIDADE

Paccelli M. Zahler

-Mãos na cabeça e documentos!

- Sou um trabalhador registrado! Vejam meus documentos!

- Cala a boca, vagabundo! Mãos na parede!

- Ok, pode liberar!

- Sim, sargento!

A honra e a dignidade de um humilde cidadão assalariado jogadas na lata do lixo.

quinta-feira, junho 02, 2005

O DESEJO SECRETO DE BRASÍLIA

O DESEJO SECRETO DE BRASÍLIA

Paccelli M. Zahler

Todos os anos, no dia 21 de abril. Brasília acorda preguiçosa e, ao abrir os olhos, costuma estender suas asas em um espreguiçar gostoso, aspirando o ar fresco do outono.
Sob os primeiros raios do sol, espreita o céu azul que a cerca, enfeitado com nuvens de algodão, que já se despedem da estação chuvosa.
Enquanto pratica “tai chi chuan”, Brasília silencia sua mente e medita sobre sua história, sobre sua trajetória de cidade monumento.
No dia do seu aniversário, sopra as velinhas e pensa na realização de um desejo secreto.
Sim, ela gostaria de manter a sua juventude, o seu frescor de menina. Sabe, contudo, que a realização desse desejo não depende dela. Depende de nós que a escolhemos para viver.
Se não jogássemos lixo no chão; se não pichássemos as paredes e os monumentos; se respeitássemos idosos, ciclistas e pedestres; se trocássemos a violência urbana pela fraternidade e solidariedade, Brasília ficaria feliz e nos retribuiria com muitas flores perfumadas.
Só depende de nós realizar o desejo secreto de Brasília.

terça-feira, maio 31, 2005

MEMÓRIAS DO PROFESSOR CONTREIRAS

MEMÓRIAS DO PROF. CONTREIRAS

Paccelli José Maracci Zahler*

Foi com consternação que recebi a notícia do passamento do Prof. Eduardo Contreiras Rodrigues por meio da página eletrônica da Rádio Difusora.
Tive o privilégio de ter sido aluno do Prof. Contreiras, como o chamávamos, lá pelos idos do início dos anos 1970 (creio que 1971/72, se não me falha a memória), no Curso Ginasial do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora.
Naquela época, o Colégio N. S. Auxiliadora não admitia meninas, tinha uma disciplina rígida e qualquer deslize era motivo para anotações na caderneta e queixa para os pais. Sem falar em alguns castigos, como por exemplo, ficar uma hora virado para a parede, como aconteceu comigo e alguns colegas flagrados em uma brincadeira pelo Padre Erwin, responsável pela disciplina.
O Prof. Contreiras foi anunciado como nosso professor de geografia. Fiquei contentíssimo porque sabia do seu alto conceito como excelente mestre, mesmo porque ele havia sido professor do meu pai e da minha tia.
Lembro-me de vê-lo caminhando pelos corredores, material de trabalho embaixo do braço, e fumando seu cachimbo com odor agradável de chocolate, que preenchia todo o ambiente.
É claro que, tentando seguir seu exemplo em uma época que o fumo não era proibido, comprei um cachimbo logo que me radiquei em Brasília, DF, em 1982.Porém, quis a natureza que eu não adquirisse o hábito devido a uma alergia à fumaça. Isto acabou trazendo benefícios à minha saúde, uma vez que nunca consegui fumar.Se o fizesse, minha garganta ficava irritada por, no mínimo, uma semana.
Minhas primeiras aulas com o Prof. Contreiras foram sobre astronomia. Ele falava sobre a formação do Universo, a forma da Terra, a rotação dos planetas ao redor do Sol, os eclipses, etc. Eu ficava fascinado, porque fazia pouco tempo que o homem havia pisado na Lua e eu acompanhava avidamente tudo o que era noticiado.
Certa feita, o Prof. Contreiras perguntou em sala se alguém saberia dizer como se chamava a lei universal que fazia com que os corpos caíssem no chão.
Os alunos se entreolharam em busca de ajuda mútua.
Um colega corajoso soltou a pérola:
- Lei da Gravidez, professor!
Gargalhada geral.
O Prof. Contreiras permaneceu sério, esperou as gargalhadas cessarem e, muito calmamente, perguntou ao aluno:
- Isso foi alguma brincadeira, meu filho?
O aluno respondeu:
- Não, professor! Eu pensei que era a Lei da Gravidez!
- Na realidade, chama-se Lei da Gravidade, foi descoberta por Isaac Newton, e...
O Prof. Contreiras discorreu longamente sobre o tema, encantando-nos a todos.
Hoje, tomo-o como exemplo de mestre.Didático, preciso em suas explanações, nunca o vi tomando atitudes extremas.
Naquela época, em que tudo era motivo para a imposição da disciplina, principalmente em um colégio só de meninos, tenho certeza de que, se fosse outro professor, o aluno teria sido encaminhado ao responsável pela disciplina para a devida punição por ter tumultuado a aula.
Uma outra característica do Prof. Contreiras, foi a utilização de mapas, cartazes, desenhos para ajudar os alunos a fixar a matéria.
O método mais utilizado na época era a memorização. Tínhamos que decorar lições inteiras que eram tomadas oralmente, um a um, na aula seguinte. Como resultado, repetíamos vírgula por vírgula, mas não entendíamos muito bem a matéria.
Por alguma razão, o Prof. Contreiras ficou com a minha turma por pouco tempo, sendo substituído por outro professor que continuou com o método tradicional.
Trinta e três anos depois, o Prof. Contreiras acabou nos deixando em definitivo, atendendo a um chamado Superior.
Ficaram a suas lições e seu exemplo guardados na minha memória.

*Paccelli José Maracci Zahler, bageense,engenheiro agrônomo, radicado em Brasília, DF.