sábado, junho 12, 2004

MOMENTO CRÍTICO

MOMENTO CRÍTICO

Paccelli M. Zähler


Deslocando-se de ônibus do aeroporto de Cumbica em direção à Praça da República, não parava de cantarolar mentalmente a música “Sampa”, de Caetano Veloso.
Era difícil vir a São Paulo sem que a música lhe viesse à mente. Era uma compulsão.
Sofria ao pensar em enfrentar mais uma rodada de reuniões de negócios.Viajar a serviço era uma tortura. O que podia fazer se São Paulo é o centro dos negócios do país?
O pior de tudo, além de sair do conforto do lar, era ter que redigir o relatório da viagem para justificar os gastos da instituição em que trabalhava.Entretanto, era preciso ganhar o “pão de cada dia”.
Ah, se fosse possível dar uma escapulida até uma pizzaria no Bairro Cerqueira César ou, quem sabe, tomar um chope gelado para descontrair em um final de tarde, observando o movimento da cidade. Porém, não era assim que as coisas funcionavam.
Negociar é uma arte que nem sempre traz resultados animadores. Quando viera a São Paulo pela última vez, ficara entusiasmado. Todavia, graças ao vira-casaca do Joaquim, as coisas se reverteram e ele teve que refazer o trabalho.
Respirava fundo, tentando aspirar a energia mais positiva que houvesse. Suava frio ao imaginar-se preso novamente ao traje de passeio completo.
O ambiente urbano lhe fazia bem. Duro mesmo era ter que enfurnar-se na sala de reuniões, impregnada de fumaça de cigarro, com pessoas não muito amáveis a buscar soluções, a fazer jogo de palavras, a tentar virar o jogo a seu favor. Sim, a negociação é um jogo.
Começou a sentir uma dor no peito. Não era infarto. Era ansiedade.
No quarto do hotel, revia mentalmente o ambiente, os contendores, os estratagemas para obter resultados positivos e obter a tão almejada promoção. Depois, era só relaxar e tirar umas férias.
Um frio percorreu a sua coluna vertebral. “Até quando iria levar aquela vida?”, perguntava-se.
Cada vez que enfrentava uma reunião de negócios sentia palpitações, vertigens, insegurança, apesar de toda a aparência de durão. Valia a pena? Não seria mais interessante juntar as suas economias e montar o próprio negócio, já que tinha experiência com grandes corporações?
Após a reunião final, enviou o relatório do trabalho, juntamente com uma carta de demissão, pelo correio expresso.
Decidiu refazer a vida profissional em São Paulo.

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