quinta-feira, junho 09, 2005

FALCÃO, CHARGISTA E ESCRITOR

FALCÃO, CHARGISTA E ESCRITOR

Paccelli M. Zahler

Foi com seis meses de atraso que recebi o livro “Seis Contistas Bageenses”, resultante de uma Oficina de Criação Literária Alcy Cheuiche – 2004.
Fiquei muito contente em ver entre os contistas o meu companheiro de Ginásio e Científico do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora Cláudio Falcão de Azevedo, o Falcão.
Tive o privilégio de conviver diretamente com o Falcão e acompanhar o seu crescente interesse pelo desenho humorístico. Este surgia em qualquer momento ou lugar e circulavam de mão em mão durante as aulas com muito sucesso.
Na hora do recreio, Falcão mantinha-nos entretidos com suas “performances” e piadas. Eram tiradas rápidas que nos pegavam desprevenidos, particularmente a mim, que demorava alguns segundos a mais para entendê-las.
Quando o Mini-Cine Difusora passou o filme “Operação Dragão”, com Bruce Lee, o ídolo do “kung fu” e o seriado “Kung Fu”, com o David Carradine, era transmitido semanalmente pela TV Gaúcha, nossa turma ficou apaixonada pelo assunto e começou a discutir nas rodinhas formadas entre uma aula e outra a filosofia oriental.
Falcão decidiu-se por matricular-se em um curso de caratê Shotokan que havia sido aberta em Bagé. Entre suas leituras preferidas, Lobsang Rampa.
Chegamos a fazer alguns trabalhos escolares juntos. Meu grande problema era me entender com Farah Diba, sua cadela de estimação da raça Pastor Alemão (salvo engano, porque não tinha coragem de encará-la).
Modéstia à parte, a parceria deu certo e obtivemos boas notas nos trabalhos de História prescritos pelo Prof. Getúlio.
Concluído o Curso Científico (2º Grau) prestamos vestibular para a FAT-FunBa (URCAMP), na época em que as provas eram elaboradas pela Universidade Federal de Santa Maria. Ele para Medicina Veterinária, eu para Engenharia Agronômica.
Dada a diferença de assuntos e interesses, nossos caminhos se separaram.
Há cerca de dois anos, navegando pela “internet”, encontrei a página do jornal O Minuano com uma charge assinada pelo Falcão.
Olhei detalhadamente e pensei: “Tenho certeza de que conheço esse traço?”
Remexi na minha caixa de recordações, comparei alguns desenhos que guardei (os primeiros ensaios de Falcão como chargista, onde o personagem era eu) e tive certeza de que se tratava do Cláudio Falcão.
Sim, o Cláudio Falcão, fã incondicional de Arsène Lupin, personagem do escritor francês Maurice Leblanc.
Em seus contos, Cláudio Falcão mostra que seu talento como escritor caminha “pari passu” com o de chargista. Seus contos são agradáveis e refletem, com certeza, parte de suas experiências pessoais.
Chamou-me a atenção sua pequena autobiografia onde consta que “dizia desde sempre que morreria em Bagé”, não tendo hoje a mesma convicção.
Nesse ponto, temos algo em comum.

sábado, junho 04, 2005

OPRESSÃO, A DURA REALIDADE

OPRESSÃO, A DURA REALIDADE

Paccelli M. Zahler

-Mãos na cabeça e documentos!

- Sou um trabalhador registrado! Vejam meus documentos!

- Cala a boca, vagabundo! Mãos na parede!

- Ok, pode liberar!

- Sim, sargento!

A honra e a dignidade de um humilde cidadão assalariado jogadas na lata do lixo.

quinta-feira, junho 02, 2005

O DESEJO SECRETO DE BRASÍLIA

O DESEJO SECRETO DE BRASÍLIA

Paccelli M. Zahler

Todos os anos, no dia 21 de abril. Brasília acorda preguiçosa e, ao abrir os olhos, costuma estender suas asas em um espreguiçar gostoso, aspirando o ar fresco do outono.
Sob os primeiros raios do sol, espreita o céu azul que a cerca, enfeitado com nuvens de algodão, que já se despedem da estação chuvosa.
Enquanto pratica “tai chi chuan”, Brasília silencia sua mente e medita sobre sua história, sobre sua trajetória de cidade monumento.
No dia do seu aniversário, sopra as velinhas e pensa na realização de um desejo secreto.
Sim, ela gostaria de manter a sua juventude, o seu frescor de menina. Sabe, contudo, que a realização desse desejo não depende dela. Depende de nós que a escolhemos para viver.
Se não jogássemos lixo no chão; se não pichássemos as paredes e os monumentos; se respeitássemos idosos, ciclistas e pedestres; se trocássemos a violência urbana pela fraternidade e solidariedade, Brasília ficaria feliz e nos retribuiria com muitas flores perfumadas.
Só depende de nós realizar o desejo secreto de Brasília.